Fernando Nakagawa
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Fernando Nakagawa

Repórter econômico desde 2000. Ex-Estadão, Folha de S.Paulo, Valor Econômico e Gazeta Mercantil. Paulistano, mas já morou em Brasília, Londres e Madri

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Moody’s deixa claro que, desse jeito, primário não quer dizer muita coisa

Gastos como precatórios são retirados do resultado fiscal e mascaram situação das contas públicas, já que a meta é alcançada, mas a dívida continua crescendo
Sede da Moody's em Nova York  • 12/11/2021. REUTERS/Andrew Kelly/File Photo
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A agência de classificação de risco Moody’s até reconhece que o Brasil tem conseguido entregar metas de resultado primário, mas a piora da perspectiva do rating mostra que entregar o número, atualmente, não quer dizer muita coisa.

O argumento dos analistas é que o Brasil não tem conseguido reduzir as vulnerabilidades fiscais, especialmente quando fracassa no esforço para estabilizar a dívida pública.

Isso acontece especialmente porque parte dos gastos públicos são, atualmente, excluídos da conta do resultado primário. O mais importante exemplo disso são os precatórios.

Nesse caso, o dinheiro sai do caixa do governo para pagar a conta, mas não aparece no cálculo do resultado primário. Com essa exclusão, o saldo da conta do governo até aparece bonito, mas a dívida pública continua crescendo porque, para pagar a conta, o governo precisa tomar dinheiro emprestado.

É como se eu pegasse um empréstimo para pagar o cartão de crédito, mas a conta simplesmente não aparecesse no meu extrato bancário.

A Moody’s é dura – e realista – ao reconhecer que houve “deterioração acentuada na capacidade de pagamento da dívida” do Brasil nos últimos meses.

Como argumento, a Moody’s cita que há “progresso mais lento do que o esperado” em duas frentes necessárias para o enfrentamento da situação fiscal: 1) reduzir a rigidez dos gastos e 2) construção de credibilidade fiscal. Ou seja, o governo tenta avançar, mas o ritmo é insuficiente.

Política antes da economia

Ao mesmo tempo, a agência indica medidas que poderiam reduzir o risco do país e, assim, levar a uma melhora da nota brasileira. E, para isso, a Moody’s faz uma observação muito interessante: para mudar a economia, é preciso mudar a política.

“O rating soberano do Brasil poderia ser elevado caso surja um amplo consenso entre formuladores de políticas e o Congresso para avançar em reformas mais profundas de gastos”, cita o documento.

“Medidas que reduzam a vinculação de receitas, a indexação de benefícios sociais ao salário-mínimo ou a reforma dos benefícios previdenciários criariam espaço fiscal e melhorariam o perfil de crédito”, completa o texto.

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