As cenas vexatórias na sessão da Comissão de Infraestrutura do Senado Federal, na última terça-feira, são uma amostra de como a biografia e o posicionamento da ministra Marina Silva incomodam. Uma pessoa pobre, analfabeta, que sai do seringal Bagaço, no Acre, para tornar-se uma protagonista mundial na defesa do meio-ambiente, irrita ao manifestar-se contra toda espécie de agressões ambientais.
Em contextos de forte divergência política, infelizmente, não são raros os episódios em que o debate perde o foco técnico e científico, cedendo espaço a posturas desrespeitosas. A sessão da última terça-feira evidenciou a dificuldade que ainda existe em acolher vozes que fogem aos padrões tradicionais de poder — especialmente quando essas vozes vêm acompanhadas de firmeza e coerência.
Fico com a impressão de que, fosse o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima ocupado por um homem, as hostilidades seriam mais brandas. Elas não deixariam de existir, mas seriam menos desqualificantes na sua intenção de agredir o titular da pasta.
Marina incomoda pelo fato de ser mulher negra e ambientalista de renome mundial. Ela representa os amazônidas despossuídos e desvalidos. Aqueles para os quais nem todos olham e tampouco representam quando estão na Câmara ou no Congresso. Entretanto, Marina olha, aponta os problemas e indica as soluções. É claro que isso incomoda.
Ao considerarmos que em novembro vamos sediar o maior evento mundial sobre meio ambiente e sustentabilidade, a COP30, as agressões repercutem dentro e fora do país, em um contexto no qual o Brasil procura afirmar sua liderança nas discussões climáticas globais.
Há uma constatação final: Marina Silva não está só, como se supõe. Ela conta com o apoio de inúmeras pessoas dentro e fora do Brasil. Não fosse assim, ela não teria o protagonismo que tem. A lamentar, também, a perda da oportunidade de estabelecer um diálogo construtivo por parte dos políticos que a atacaram. Um diálogo que pudesse levar à elaboração de propostas justas, claras e bem fundamentadas que pudessem ser debatidas em um fórum como a COP30. Mas talvez fosse esperar demais.
A proximidade da COP30 exige do Brasil uma definição clara: estaremos entre os que pregam a sustentabilidade com ações concretas ou entre os que contradizem seus próprios discursos? A forma como a ministra do Meio Ambiente vem sendo tratada é um reflexo dessas escolhas — e da imagem que queremos projetar internacionalmente.