Usar um imposto regulatório para cumprir meta fiscal ou para provocar contração do crédito e abrir espaço para queda dos juros contém distorções tão desnecessárias, quanto absurdas.
Não à toa o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, correu para se posicionar contra a medida e, ao mesmo tempo, conter uma crise institucional entre ele e a Fazenda.
Ex-integrantes do BC ouvidos pelo Blog ficaram alarmados com a criação de uma nova lógica da equipe econômica do governo petista: aumento de imposto é bom para combater a inflação. Sim, porque no final das contas, se o Copom não precisa mais subir os juros porque o IOF vai fazer o serviço, o mínimo que se espera é que o IPCA caia e volte para meta de 3%.
Em evento nesta segunda-feira (26) no Rio de Janeiro, o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, saiu em defesa de Fernando Haddad e foi direto no recado ao Banco Central, além de confirmar a teoria petista, inédita na história econômica.
"O IOF tem uma função de contração monetária, porque aumenta o custo do crédito. Mas a Selic gera dívida o IOF gera receita diminui o problema da relação dívida-PIB”, disse Mercadante.
“Seria genial se não fosse assustador”, disse um economista ouvido pelo blog. “É como se não precisasse mais do BC para combater a inflação, é só aumentar imposto”, reforçou. A equação petista padece do realismo sobre os efeitos de uma ruptura do o ao crédito para empresas que podem provocar desaceleração rápida e desorganizada da economia, além de alimentar crise de confiança no país.
Nada disso parece preocupar os petistas mais graduados do governo. Em seu discurso no evento nesta segunda-feira, Aloizio Mercadante traçou o que pode, ou deveria, ser a estratégia do Comitê de Política Monetária a partir de agora. Além de se aliar a Fernando Haddad no combate solitário que ele enfrenta para equilibrar as contas.
“Tem espaço para fazer [cortar a Selic] de forma gradual, segura e sustentável. Eu nunca falo disso, mas hoje como você (Haddad) está aqui eu falei para te defender, porque você não pode ficar sozinho segurando todo esse desafio gigantesco que nós temos pela frente”, disse o presidente do BNDES.
Mercadante não está sozinho nesta crença. As declarações de gente da equipe econômica, incluindo o ministro da Fazenda, de que estão ajudando o BC a não subir mais os juros, foram parte da defesa do aumento do IOF.
Com a repercussão no mercado, a taxação dos investimentos externos caiu em poucas horas porque a reação do câmbio é a mais rápida e eficiente para assustar governos. Também assustou o fato de não considerarem que a medida soava controle de capitais, coisa que a China faz sem constrangimento.
Tudo indica que a pernada do IOF sobre o crédito vai resistir mais tempo. E vamos assistir a um filme que já vimos no governo Dilma 1 e 2, com uma aposta dobrada na soberba dos economistas petistas de que suas fórmulas são corretas.
O fato do país ter entrado na crise fiscal em 2015 exatamente por conta delas não faz parte da estória contada pelo governo Lula. Ao contrário, ao identificar o problema estrutural das contas públicas, é como se a fonte dos problemas atuais não existisse e, portanto, a responsabilidade sobre eles também não.
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