Análise: Putin "louco" não mudou. E Trump, mudará sua visão do líder russo?

Presidente dos EUA repreendeu o líder do Kremlin após um ataque massivo à Ucrânia

Matthew Chance, da CNN
Trump e Putin se reúnem durante reunião do G20 em Osaka, Japão  • 28/06/2019 REUTERS/Kevin Lamarque
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“Sempre tive um ótimo relacionamento com Vladimir Putin, da Rússia, mas algo aconteceu com ele”, observou o presidente dos EUA, Donald Trump, reagindo aos intensos ataques russos com drones e mísseis contra a Ucrânia no fim de semana.

De fato, o líder do Kremlin parece praticamente inalterado, apesar dos apelos da Casa Branca, apenas continuando sua política de guerra constante na Ucrânia, na qual ataques aéreos se tornaram uma prática bastante comum.

A verdadeira questão é se Trump mudou, ou pelo menos se sua atitude em relação a Putin começou a mudar em meio ao que parece ser um esforço cada vez mais inútil dos EUA para forjar a paz na Ucrânia, algo que Trump se gabava de poder fazer – não nos esqueçamos – em pouco tempo.

Emmanuel Macron, o presidente francês, certamente acredita que uma reviravolta mental foi feita, dizendo a repórteres no Vietnã que a recente repreensão de Trump ao seu homólogo russo, chamando-o de "absolutamente LOUCO", significa que o presidente dos EUA "percebe" que Putin "mentiu" sobre a guerra na Ucrânia, acrescentando que espera que as palavras de Trump "se traduzam em ações".

Mas os registros sugerem o contrário.

Esta é a sexta vez neste mandato que Trump, que afirma consistentemente ter um forte relacionamento com Putin, expressa publicamente impaciência ou irritação com o chefe do Kremlin.

Em março, Trump revelou estar "irritado" com Putin por se recusar a concordar com um cessar-fogo de 30 dias.

Em abril, Trump exigiu "Vladimir PARE", após um ataque com mísseis russos a Kiev ter deixado uma dúzia de mortos.

"Talvez ele não queira realmente parar a guerra e esteja apenas me incentivando", ponderou Trump mais tarde.

As repreensões a Trump têm sido rotineiramente acompanhadas por expressões de decepção pessoal e ameaças de possível retaliação, como tarifas secundárias sobre "todo o petróleo proveniente da Rússia" ou "novas sanções" não identificadas.

Questionado novamente, após a última repreensão a Putin, se consideraria agora impor mais sanções à Rússia, Trump respondeu: "Com certeza".

Até o momento, não houve nenhum sinal concreto de que Trump esteja preparado para usar a substancial influência econômica à sua disposição para forçar o Kremlin a repensar sua postura linha-dura.

O mesmo não ocorre no Senado dos EUA, onde um projeto de lei multipartidário foi apresentado para dificultar o financiamento da guerra pela Rússia.

O projeto, agora apoiado por 81 senadores, propõe não apenas sanções mais diretas à Rússia, mas também sanções secundárias, como uma tarifa massiva de 500% sobre os países que compram energia russa.

Mas as medidas, que impactariam seriamente a economia russa, já frágil e dependente do petróleo, são extremamente controversas, pois também puniriam a China, a Índia e a União Europeia, que ainda são grandes consumidores de energia da Rússia.

É claro que é possível que Trump agora apoie o projeto de lei, ou talvez uma versão diluída dele. Mas isso seria uma grande mudança de direção, dada sua relutância constante em confrontar e punir o Kremlin até o momento.

Mais provavelmente, o recente aumento da violência na Ucrânia pode convencer ainda mais o presidente americano, já frustrado, de que ele simplesmente não consegue unir as partes em conflito tão cedo.

E, em meio a toda sua raiva e arrogância sobre Putin, Trump pode simplesmente decidir se retirar.

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