Essas são somente algumas das revelações feitas ao longo dos últimos anos pelo papa Francisco, que antes era Jorge Mario Bergoglio e ao longo de 88 anos marcou a história da Argentina e do mundo. Confira algumas curiosidades da vida do pontífice sul-americano:
Na autobiografia “Vida: Minha História Através da História”, escrita com o vaticanista italiano Fabio Marchese Ragona, o papa conta que já namorou e que, depois disso, outra paixão o colocou à prova quando ele já estava no seminário.
“Eu já tinha tido uma namorada antes, uma menina muito doce que trabalhava no mundo do cinema e que depois casou-se e teve filhos”, descreveu Francisco sobre a relação, sem revelar o nome da moça ou a idade que ele tinha na época.
Sobre a “pequena paixão” posterior, o pontífice disse ser “normal, ou não seríamos seres humanos”.
“Eu estava no casamento de um dos meus tios e fiquei encantado por uma garota. Ela virou minha cabeça com sua beleza e inteligência. Por uma semana, fiquei com sua imagem na mente e foi difícil conseguir rezar! Depois, felizmente, ou, e me dediquei de corpo e alma à minha vocação", relatou.
Após o desafio que, para Bergoglio significou se apaixonar na juventude, ele conta que sua próxima “provação” foi em 1957, quando todos no seminário pegaram uma gripe. Ele também ficou doente mas, à diferença dos colegas, não se curava nunca.
“Eu continuava preso no quarto, porque a febre não cedia. Então um dia eu piorei: minha temperatura corporal estava altíssima, e o reitor, assustado, levou-me correndo ao Hospital Sírio Libanês.
Fui diagnosticado com uma séria infecção, e naquele dia tiraram um litro de líquido dos meus pulmões”, contou.
O pontífice dizia dever sua vida à freira italiana Cornelia Caraglio que o acompanhou no hospital. “Ela percebeu que as doses de penicilina que os médicos me prescreveram estavam baixas demais e istrou a dose correta para o meu problema, o que me salvou”, relatou.
Colegas do seminário também iam todos os dias ao hospital para doar sangue. “Eu tinha muitos anjos da guarda por perto”, expressou o papa sobre a ocasião. Mas a recuperação foi longa, e ele revela que chegou a se preparar para morrer.
"Eu ficava muito tempo em silêncio. Pensava no que poderia acontecer comigo, rezava a Nossa Senhora e, de certa maneira, também me preparava para a morte. Não se podia descartar esse risco. Minha mãe, sempre que ia me visitar, caía em prantos, outros tentavam me consolar”, relatou no livro.
Em novembro de 1957, ano que teve a infecção, Bergoglio teve o lobo superior do pulmão direito retirado, devido à formação de três cistos. A intervenção cirúrgica foi com as melhores técnicas da época.
"Você pode imaginar o tamanho dos cortes e o quanto sofri", descreveu Francisco sobre o procedimento.
Outra revelação do papa em seu livro publicado em 2024 foi a de que soube que estava sendo considerado para assumir o pontificado quando começou a ser interrogado pelos demais cardeais.
Ele descreve ter sido abordado pelo cardeal espanhol Santos Abril y Castelló que perguntou: "Eminência, desculpe perguntar, mas é verdade que lhe falta um pulmão?”.
Bergoglio respondeu que não, que não tinha somente o lobo superior do órgão direito, retirado quando ele tinha 21 anos.
O papa descreveu que o cardeal ficou sério e reclamou “bastante irritado” de “manobras de última hora”. “Esse foi o momento preciso em que me dei conta de que os cardeais estavam pensando em mim como sucessor de Bento XVI”, contou.
Ainda na obra “Vida: Minha História Através da História”, o papa contou que na primeira votação do conclave, na qual quase foi eleito para a liderança da Igreja Católica, o cardeal brasileiro Dom Cláudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo, se aproximou dele com palavras de incentivo: "Não tenha medo! É obra do Espírito Santo!".
E essa não foi a única ocasião em que o brasileiro manifestou apoio ao colega argentino. O papa contou que na terceira votação daquela tarde, no 77º voto, quando seu nome atingiu dois terços das preferências e ele foi aplaudido, Hummes se aproximou novamente, deu-lhe um beijo e disse: “Nunca se esqueça dos pobres”.
“Foi ali que escolhi o nome que teria como papa: Francisco”, disse, explicando que a decisão, tomada após as palavras do brasileiro, foi uma homenagem a São Francisco de Assis, conhecido por ter exercido sua vida religiosa na simplicidade e se dedicando aos pobres.
Em 1998, quando ainda era padre, Jorge Mario Bergoglio foi expulso do vestiário do San Lorenzo, seu time do coração, antes do começo de um jogo contra o Clube Atlético Platense.
A história foi contada pelo próprio técnico do time, Alfio Basile, que na época acabava de ser contratado após uma sequência de derrotas do “Cuervo” e expulsou o padre.
“Estávamos nas palavras motivacionais para sair para o estádio e de repente a porta do vestiário abre e entra um padre. Eu digo: mas nenhum padre, nem ninguém pode entrar no vestiário, ainda mais antes de começar a partida”, contou anos depois, em um programa de televisão.
O técnico, então, perguntou para o presidente do clube, Fernando Miele, quem era o religioso e escutou que era um torcedor do San Lorenzo, que em todos os jogos ia benzer os jogadores antes das partidas.
“Mas se você me contratou porque o San Lorenzo não ganha de ninguém! Pode mandar embora esse azarado. Nesse momento, eu nem sabia quem era esse padre”, relatou, contando que Bergoglio foi embora com a cara “muito triste”.
A estratégia de Basile deu certo e, naquele jogo, o time de Almagro ganhou de 4 a 1 da equipe de Vicente López.
Em 2013, ano em que o papa foi eleito, ao encontrar-se com Miele, escutou: “Você viu quem é o papa?”, ao que respondeu: “Como não vou saber, todo mundo sabe quem é o papa Francisco!”.
E foi quando finalmente soube, pelo ex-presidente do clube: “Você não sabe! É aquele que você expulsou do vestiário, quando ele era Bergoglio!”
Quando cardeal de Buenos Aires, Bergoglio viveu em tensão constante com os ex-presidentes Néstor e Cristina Kirchner, em seus respectivos governos. A principal divergência se deu pelo apoio do kirchnerismo ao matrimônio igualitário, que acabou aprovado pelo Congresso argentino em 2010.
Principal opositora ao projeto de lei, a Igreja Católica do país liderada por Bergoglio afirmava à época que “o mais grave” era a lei permitir a adoção por casais do mesmo sexo. O então cardeal chegou a discursar em manifestações contra a aprovação da lei.
Em uma carta às irmãs Carmelitas de Buenos Aires obtida pelo canal Todo Noticias, afiliado da CNN em Buenos Aires, Bergoglio chegou a afirmar que o projeto de lei apoiado pelo kirchnerismo “não se trata de uma simples luta política, é a pretensão de destruir o plano de Deus”.
Em seu livro de memórias “Sinceramente”, Cristina Kirchner conta que viu o anúncio de que Bergoglio seria o novo papa pela TV e que ligou imediatamente para seu secretário, pedindo que ele fosse com o computador até a residência presidencial: “Temos que ser os primeiros a cumprimentar o novo papa”, disse, afirmando também que iria para a consagração em Roma.
“Naqueles dias, muitos habitantes do Bairro Norte e Recoleta, os bairros mais ricos da cidade de Buenos Aires, penduraram bandeiras vaticanas amarelas nas varandas, para comemorar a escolha de Bergoglio. Tenho certeza de que, inicialmente, acreditavam ter encontrado um novo líder para lutar contra a ‘égua’”, disse Cristina Kirchner, sobre um xingamento usado para insultá-la na época.
A ex-presidente relata, no entanto, que não estava preocupada com os conflitos do ado. Durante sua Presidência, foram sete encontros da líder argentina com o papa. Em um deles, mencionou a relação do pontífice com o falecido marido: “No fundo, acho que a Argentina era um lugar muito pequeno para vocês dois juntos”, afirma ter dito.
No livro, ela revela a existência de uma disputa entre os dois desde o começo do governo de Néstor. A Casa Rosada fica a somente 350 metros da Catedral Metropolitana, também localizada na Praça de Maio.
“Todos dizíamos para o Néstor: ‘Você tem que ir ver o Bergoglio’. Ele respondia: ‘Não, ele que venha me ver na sede do governo’. Do outro lado, Bergoglio respondia: ‘Não, ele que venha até a Catedral”. Definitivamente, nunca se encontraram porque nenhum quis atravessar a Praça de Maio”, garante ela no livro.