Na’ama Levy, uma das cinco soldadas das IDF libertadas em janeiro, fez os comentários durante um protesto na Praça dos Reféns de Tel Aviv, no domingo (25), exigindo a devolução dos reféns.
“Eles (os ataques) acontecem inesperadamente. Primeiro, você ouve os zunidos, reza para que não caiam sobre nós, e então vem as explosões, um barulho tão alto que paralisa o corpo, e o chão treme”, disse Levy a uma multidão de pessoas.
“Todas as vezes, eu tinha certeza de que aquele era o meu fim. Foi uma das coisas mais assustadoras que vivi lá e foi isso que mais me colocou em perigo”, continuou ela, descrevendo um incidente em que um ataque fez com que a casa em que ela estava desabasse parcialmente.
“Essa era a minha realidade. É a realidade deles agora”, disse a soldada, referindo-se aos reféns que ainda estão em cativeiro.
“Mesmo agora, neste exato momento, há reféns que ouvem aqueles assobios e explosões, eles estão lá tremendo de medo. Eles não têm para onde correr, eles conseguem apenas rezar e se agarrar às paredes com uma terrível sensação de desamparo”, completou Levy.
Os comentários da soldada Levy foram feitos em um momento em que as famílias dos reféns israelenses mantidos em Gaza intensificam as críticas ao primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, e Israel sofre crescente pressão para encerrar a guerra no território.
No início desse mês, Netanyahu afirmou que derrotar os inimigos de Israel é o "objetivo supremo" e mais importante do que garantir a libertação dos reféns restantes em Gaza, comentário que gerou reações negativas de representantes das famílias dos reféns.
Na’ama Levy pediu o retorno de todos os reféns israelenses, afirmando que, caso contrário, "não haverá vitória".
"Não há como eles (Israel) realmente entenderem o que estamos ando e ainda assim nos deixarem em Gaza", comentou Levy durante o discurso.
Nos primeiros meses da guerra, outro refém israelense expressou temores semelhantes aos de Na’ama Levy, informou o veículo de mídia israelense Ynet, com base em um áudio que, segundo ele, vazou de uma reunião entre os reféns libertados, suas famílias e Netanyahu.
O medo era que "não fosse o Hamas, mas Israel, que nos mataria, e depois diriam que o Hamas matou você", disse o refém, que foi libertado em um dos primeiros acordos.
Os comentários de Levy no domingo (25) também ocorreram após Netanyahu nomear um novo chefe para a agência de segurança interna (Shin Bet) na sexta-feira (23), o Major-General David Zini, que teria se manifestado contra os acordos de reféns. As famílias dos reféns criticaram a escolha.
De acordo com o Canal 12 de Notícias de Israel, Zini disse em reuniões do Estado-Maior das Forças de Defesa de Israel (IDF): "Sou contra acordos de reféns. Esta é uma guerra sem fim."
A reportagem não fornece uma data específica para os comentários, mas afirma que essa foi uma posição que ele repetiu com frequência ao longo do último ano.
"Se a reportagem estiver correta, essas são declarações chocantes, dignas de condenação inequívoca, especialmente vindas de alguém que deve ter o destino dos reféns em suas mãos", afirmou o Fórum de Reféns e Famílias Desaparecidas em um comunicado na época.
Em seu cargo anterior como chefe do Comando de Treinamento e do Corpo de Estado-Maior das Forças de Defesa de Israel (IDF), Zini teve pouca influência nas negociações sobre os reféns.
Mas, como chefe da agência de segurança interna (Shin Bet), ele poderia ter um papel significativo, considerando a participação da agência em rodadas anteriores de negociações indiretas com o Hamas.
"Nomear um chefe do Shin Bet que prioriza a guerra do (primeiro-ministro Benjamin) Netanyahu pelo retorno dos reféns é um pecado dos crimes e uma injustiça para todo o povo de Israel. É um golpe no valor da solidariedade e no dever sagrado de não deixar ninguém para trás", afirmou o fórum.
Nas últimas semanas, Israel tem sofrido crescente pressão para encerrar a guerra em Gaza, enquanto o enclave enfrenta a fome generalizada em meio a uma grave escassez de ajuda humanitária.
O Reino Unido suspendeu as negociações comerciais e impôs sanções a colonos extremistas na Cisjordânia. Canadá e França ameaçaram aplicar sanções, enquanto a União Europeia, o maior parceiro comercial de Israel, está revisando seu histórico Acordo de Associação com o país.
Nas palavras de um ministro israelense, a paciência deles se esgotou com a decisão de expandir a guerra.
O sequestro de Levy surgiu como um dos primeiros a virar manchete após o ataque liderado pelo Hamas no dia 7 de outubro de 2023.
Um vídeo divulgado pelo Hamas mostrou a soldada que tinha 19 anos na época, sendo arrastada pelos cabelos sob a mira de uma arma e com as mãos amarradas.
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