Novos estudos apresentados nos últimos dias durante a reunião anual da American Society of Clinical Oncology (ASCO) trazem achados promissores tanto para tratamentos farmacológicos quanto para intervenções no estilo de vida — incluindo os impactos da alimentação e da atividade física.

Segundo a American Cancer Society, os diagnósticos de câncer colorretal vêm diminuindo nas últimas décadas, principalmente devido à melhora na triagem e rastreamento. No entanto, as taxas da doença estão aumentando entre os adultos mais jovens, e as pesquisas estimam que, até 2030, o câncer colorretal se tornará a principal causa de morte por câncer entre pessoas de 20 a 49 anos.

Pesquisas anteriores já indicavam que a prática regular de exercícios pode melhorar as taxas de sobrevivência entre pacientes com câncer colorretal. Agora, um novo estudo — publicado no New England Journal of Medicine e apresentado na conferência da ASCO neste domingo (1º) — confirmou essa relação com dados robustos de ensaios clínicos.

Entre 2009 e 2024, pesquisadores acompanharam cerca de 900 pacientes com câncer de cólon que haviam concluído a quimioterapia. Metade deles recebeu um livreto com orientações sobre alimentação saudável e prática de exercícios. A outra metade recebeu o mesmo livreto, mas também teve o acompanhamento de um consultor de atividade física por três anos.

Os resultados mostraram uma redução de 28% no risco de recorrência ou surgimento de um novo câncer entre os participantes do programa com consultoria em exercícios. A taxa de sobrevivência sem doença após cinco anos foi de 80% nesse grupo, comparada a 74% no grupo que recebeu apenas o livreto.

Em outras palavras, o programa de exercícios evitou que 1 a cada 16 pacientes desenvolvesse um novo câncer ou uma recidiva.

“Essa magnitude de benefício é comparável — e em muitos casos superior — à oferecida por muitos dos nossos melhores medicamentos contra o câncer”, afirmou o Dr. Christopher Booth, professor de oncologia da Queen’s University e coautor do estudo. “O exercício realmente deve ser considerado uma parte essencial do tratamento do câncer de cólon.”

Ainda se investiga por que a atividade física reduz o risco de câncer, mas especialistas acreditam que isso possa estar relacionado à capacidade do exercício de diminuir a inflamação no organismo.

Outro estudo apresentado na conferência da ASCO mostrou que dietas anti-inflamatórias também contribuíram para a melhora nas taxas de sobrevivência de pessoas com câncer de cólon em estágio 3.

Pacientes que seguiam dietas com propriedades anti-inflamatórias — incluindo café, chá e vegetais como folhas verdes — e que praticavam mais atividade física tiveram um risco 63% menor de morte, em comparação com aqueles que consumiam dietas pró-inflamatórias — ricas em carnes vermelhas, processadas, grãos refinados e bebidas açucaradas — e tinham níveis baixos de atividade física.

Segundo o estudo, uma dieta anti-inflamatória, rica em folhas verdes e vegetais, pode ser uma intervenção eficaz para reduzir o risco de câncer colorretal.

“Como área de estudo, estamos cada vez mais entendendo o papel do sistema imunológico no desenvolvimento do câncer, e a inflamação é uma resposta imune”, explicou a Dra. Sara Char, pesquisadora em Hematologia e Oncologia no Dana-Farber Cancer Institute e autora principal do estudo. O aumento dos casos de câncer colorretal em jovens reforça que esse é um aspecto crucial da questão.

“Quando analisamos a incidência de câncer de cólon em pessoas mais jovens... isso nos sugere que há algo no ambiente — seja na alimentação, no estilo de vida, em produtos químicos presentes nos alimentos, ou em vários outros fatores — que vai além da genética e pode estar impulsionando essas taxas”, acrescentou. “Por isso é fundamental refletirmos sobre como dieta e estilo de vida impactam não só o risco de desenvolver esse câncer, mas também o desfecho do paciente após o diagnóstico.”

Tanto Booth quanto Char observaram que muitos pacientes com câncer colorretal buscam maneiras ativas de gerenciar seus riscos.

“Acho que isso empodera muito os pacientes”, disse Booth. “É algo alcançável. Exige comprometimento, mas é possível.”

No estudo de Booth, cada paciente recebeu uma “prescrição de exercício” personalizada, de acordo com seu ponto de partida. A maioria conseguiu atingir suas metas com caminhadas rápidas de cerca de uma hora, três ou quatro vezes por semana.

Segundo ele, intervenções no estilo de vida, como alimentação e exercícios, também são sustentáveis para os sistemas de saúde — desde que os pacientes tenham o aos recursos necessários para adotar essas mudanças comportamentais.

Outro estudo recente trouxe resultados promissores que podem representar um novo padrão de tratamento para certos pacientes com câncer de cólon avançado.

Na sexta-feira (30), a farmacêutica Pfizer apresentou dados sobre o Braftovi, um medicamento para câncer colorretal usado em combinação com quimioterapia padrão e um anticorpo monoclonal. O estudo demonstrou que essa combinação dobrou o tempo de sobrevida dos pacientes com uma forma agressiva da doença: em média 30 meses, contra 15 meses com os tratamentos atualmente disponíveis.

O Braftovi atua em uma mutação específica de uma proteína que causa crescimento celular anormal e já tem aprovação da FDA (agência reguladora dos EUA) para tratar alguns tipos de câncer. O estudo, financiado pela Pfizer, foi publicado na sexta-feira (30) no New England Journal of Medicine.

“É uma terapia-alvo que depende de identificar o que está impulsionando o câncer de cada paciente”, afirmou o CEO da Pfizer, Dr. Albert Bourla, à CNN. Segundo ele, essas terapias personalizadas representam uma das maiores evoluções no tratamento do câncer nas últimas duas décadas — e é relativamente fácil diagnosticar se o paciente possui a mutação específica que o Braftovi pode tratar.

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