A Calçada dos Gigantes, na Irlanda do Norte, atrai a atenção de curiosos e pesquisadores há 400 anos • Jennifer Boyer/Flickr
Uma formação geológica no litoral da Irlanda do Norte atrai a visita de milhares de curiosos, assim como pesquisadores, no condado de Antrim, a 32 quilômetros de Belfast, capital do país.
Mais de 40 mil colunas de pedras, com formato hexagonal e distribuídas de forma bem alinhadas se amontoam à beira mar, como se tivessem sido cuidadosamente esculpidas por mãos humanas.
Conhecida como a Calçada dos Gigantes, as colunas de até 12 metros de altura têm sido objeto de pesquisas que buscam entender como elas surgiram.
A Calçada dos Gigantes faz parte de um grupo de rochas vulcânicas chamado Grupo de Lavas de Antrim, datado do período Paleoceno (cerca de 60 milhões de anos atrás). Ela é composta principalmente por basalto, uma rocha escura de origem vulcânica.
Embora existam outras formações similares em locais como a Islândia e a Escócia, a Calçada dos Gigantes é considerada a mais extensa e bem preservada do tipo.
O nome das colunas tem origem em uma lenda local que atribui sua criação a um gigante chamado Finn McCool, que teria construído a calçada para atravessar o mar e lutar com um rival escocês.
A formação rochosa é observada por estudiosos há mais de 400 anos. Em 1963, sir Richard Bulkeley, um político irlandês, apresentou à Royal Society uma pesquisa sobre a formação geológica.
Nos séculos seguintes, especialmente no século 18, pinturas, gravuras e demais artigos aram a ser produzidos. Muitos deles podem ser encontrados no Google Scholar.
Acredita-se que a Calçada dos Gigantes é resultado do resfriamento lento da lava que preencheu um antigo vale fluvial (um leito de rio escavado).
A lava, ao esfriar, teria se contraído e rachado em colunas verticais com formas geométricas hexagonais, em um processo conhecido como "juntamento colunar".
No entanto, um estudo recente do geólogo Michael J. Simms, publicado na Proceedings of the Geologists’ Association em 2021, propõe uma nova explicação.
Em vez de ter preenchido o vale erodido, a lava da Calçada dos Gigantes teria se acumulado em uma área que afundou pouco antes da erupção — um fenômeno conhecido como “subsidência”.
Essa depressão no solo foi causada pelo colapso de um reservatório subterrâneo de magma vulcânico.
Segundo o estudo, essa subsidência aconteceu tão rapidamente que não houve tempo suficiente para que a água, sedimentos ou mesmo erosão alterassem a área antes do fluxo de lava ocupar o espaço.
O resultado foi uma camada de basalto extremamente espessa, que deu origem às colunas geométricas vistas hoje.
O artigo científico de Simms aponta que, mesmo em um local tão estudado como a Calçada dos Gigantes, ainda há espaço para descobertas surpreendentes. A pesquisa envolveu observações de campo detalhadas e mapeamento das camadas de basalto visíveis tanto nos penhascos quanto nas rochas próximas ao mar.
Em 1986, a Calçada dos Gigantes foi declarada Patrimônio Mundial Natural pela Unesco. Além disso, também é Área de Interesse Científico Especial no Reino Unido e abriga um centro de visitantes voltado à educação ambiental e geológica.
O reconhecimento global não só protege o local legalmente, como também ajuda a financiar ações de conservação e pesquisas científicas na região. Esse esforço é essencial, já que o impacto do turismo sobre a área tem crescido nas últimas décadas.
Embora a atividade turística seja importante para a economia local, ela também impõe desafios à conservação da área.
Um dos impactos mais visíveis é o acúmulo de moedas depositadas entre as fendas das colunas por visitantes que fazem pedidos ou seguem tradições de boa sorte.
Embora pareça inofensivo, esse hábito pode afetar a composição química do solo e prejudicar organismos que vivem ali, além de acelerar o desgaste das pedras devido à oxidação dos metais.
Outros problemas incluem a compactação do solo por pisoteio excessivo, erosão acelerada e descarte inadequado de resíduos.
Para enfrentar essas questões, o centro de visitantes da Calçada dos Gigantes implementou trilhas demarcadas, painéis educativos e ações de conscientização ambiental.